Conheci a Psicóloga Letícia e achei que seria interessante lhe fazer uma entrevista para o BébéuBlog.
Espero que gostem! 🙂
Breve apresentação
Chamo-me Leticia Leuze Machado, sou licenciada em Psicologia Clínica, especialista em Psicologia Hospitalar e Pós-graduada em psicopatologia e Intervenção na Infância e Adolescência, além de ser internacionalmente certificada em Coaching pessoal e profissional. A partir da minha experiência profissional com no atendimento à crianças e pais decidi criar um espaço de acolhimento e desenvolvimento emocional para todas as faixas etárias no centro do Porto, chamado Yellowroad – Inteligência Emocional
Inspirada no mundo infantil, o nome do espaço surge a partir da história do Feiticeiro de Oz, onde cada uma das personagens percorre a estrada de tijolos amarelos em busca de encontrar Oz para que ele lhes diga onde está ou como conseguir o que lhes falta. O homem de lata, por exemplo, sonhava ter coração, o espantalho sonhava ter um cérebro, o leão sonhava ter coragem e assim por diante. Ao percorrerem o trajeto, eles acabam por encontrar esse recursos todos dentro deles!
A psicoterapia tem esse papel: ativar e desenvolver recursos que já estão dentro para resolver os conflitos internos e externos. Portanto, o processo de psicoterapia acaba por ser a nossa estrada de tijolos amarelos… Nossa YellowRoad!
Que dúvidas te aparecem mais no consultório relativamente às crianças?
O que mais aparece no consultório são dúvidas relativamente ao comportamento das crianças. Os pais muitas vezes questiona-me se os filhos estão dentro do que normalmente é esperado para a idade e se há “algum conserto” no que concerne a comportamentos mais conflituosos.
Há uma forte tendência dos pais de trazerem as crianças à consulta quando há problemas de comportamento que surgem na rotina diária, nomeadamente: birras, dificuldade em acatar ordens, conflitos entre irmãos e queixas de mau comportamento na escola. E, nesses casos há uma dificuldade dos pais em perceber até que ponto devem ceder aos desejos dos filhos e de que forma isso pode impactar todo o resto do desenvolvimento deles. Eu arrisco dizer que essas são as maiores preocupações dos pais: saber se estão sendo bons pais e se estão a fazer o melhor que podem e se as crianças estão a se desenvolver dentro do esperado.
Também não é raro aparecerem crianças com altos níveis de ansiedade.
Nesses casos, há uma tendência a serem mais introspectivas e não externalizam tanto suas emoções através de comportamentos mais agressivos, dificultando, portanto, a percepção dos pais de que há ali qualquer coisa que a está a fazer mal. Essa questão é mais facilmente percebida em contexto escolar quando a criança sabe, por exemplo, o que está a ser visto em aula mas apresenta um baixo desempenho em testes.
Também é comum trazerem queixas físicas tais como dores de barriga ou de cabeça frequentes e, em geral, após exames médicos levanta-se a hipótese de que as dores tenham um fundo emocional. Os pais, nesses casos chegam sem saber como proceder e também preocupados em como ajudar os filhos a diminuir a auto-exigência relacionada a performance na vida escolar e social (ser ou não aceito pelos pares).
Uma criança irrequieta é uma criança com deficit de atenção?
De maneira alguma. Essa é de facto uma pergunta importante, pois muitos pais tem a tendência de classificar os filhos com déficit de atenção por serem mais curiosos ou ativos fisicamente. Há diferentes tipos de inteligência e cada um de nós aprende de jeitos diferentes. Dentre os vários tipos, sito aqui alguns para exemplificar:
- algumas crianças aprendem melhor quando lêem uma informação – aquela clássica situação de durante um teste conseguir lembrar exatamente em que parte da página do livro e de que cor estava sublinhada a informação
- outras quando escutam uma informação
- outras quando vivem ativamente. Essa inteligência mais corporal é chamada de Inteligência sinestésica e são crianças que aprendem com atividades mais agitadas, sentem essa necessidade de tocar nas coisas e mexer para aprender como funcionam, por exemplo.
Nesses casos, é necessário aprender a usar isso a favor da aprendizagem ou a favor da rotina diária. Muitas vezes recebo pais aflitos que já querem medicar as crianças e apenas com algumas sugestões de atividades e estratégias já conseguem usar essa energia física dos filhos para cumprir com o que querem que seja realizado. De qualquer das formas, sempre indico a importância de uma avaliação por um profissional capacitado quando há esse tipo de dúvidas de diagnóstico e é importante que essa avaliação seja feita antes de qualquer uso de medicação. Um mau diagnóstico pode ter efeitos bastante nocivos a construção de identidade da criança e a própria saúde física e emocional no decorrer do desenvolvimento. É uma questão importante de se ter cuidado.
Qual a vantagem dos pais procurarem ajuda de forma precoce?
Todas essas situações são importantes de serem vistas precocemente tanto para as crianças – no que diz respeito a evitarem um sofrimento emocional maior – , como para os pais que muito frequentemente vão aumentando a sensação de que não estão conseguindo educar ou que não estão sendo suficientemente bons pais. Mais do que isso, acho importante dizer que os pais não precisam esperar a criança apresentar algum sofrimento para procurar ajuda.
É importante inserirmos na educação das crianças uma educação emocional!
A psicologia trabalha de forma preventiva (e isso muitas vezes os pais não sabem) a promover inteligência emocional. Um psicólogo, como costumo dizer, é um treinador de emoções e muitas vezes conseguimos em poucas sessões ensinar as crianças a reconhecer e bem gerir as emoções para que possam lidar com elas frente a resolução de problemas futuros de uma forma eficaz. Da mesma forma trabalho com os pais – através do treino de pais – para que possam promover técnicas de promoção de inteligência emocional na rotina dos filhos. A prevenção é sempre melhor e mais barata do que a intervenção em coisas já enraizadas no futuro
O que fazer quando a criança faz birra? Devemos ceder até que ponto?
Aqui está a pergunta que referi ser a dúvida mais frequente nos atendimentos. Antes de mais nada é preciso haver regras, e que sejam muito claras para a criança. Para além das regras, as consequências de cada uma, também explicadas de forma clara. A partir disso os pais não devem abrir exceções e isso é o mais desafiador e mais importante passo do processo. Por isso as regras tem de ser feitas de forma consensual entre os dois pais para que a criança não encontre brechas por onde tentar negociações.
É importante que os sejam sempre consistentes e constantes nas regras. Isso, por incrível que pareça, evita as birras. Por exemplo, se combino com a criança antes de ir a uma loja que hoje não comprarei nada para ela e ela começa a gritar quando lá chegamos querendo algo, devo manter minha palavra e não comprar nada. Será difícil lidar com os olhares dos outros e até com os comentários, mas é extremamente importante para a educação da criança que eu mantenha a minha palavra.
Á medida em que os miúdos percebem que não adianta o que façam, não ganharão a “guerra” contra os pais, eles param de tentar o método mais agressivo de birra e começam a desenvolver uma inteligência emocional frente a essa situação e tentam encontrar métodos mais pacíficos para conseguirem o que querem no futuro, como a negociação, por exemplo.
Para os pais que tem dúvidas e relação a isso e querem compreender melhor que técnicas podem ser usadas e como usá-las, a partir desse mês começaremos a promover na YellowRoad uma série de “Conversas com Pais” que tratam justamente desses temas. As conversas são bastante interativas e práticas e acredito que muitas famílias podem vir a se beneficiar desses encontros.
Link
próximos eventos da YellowRoad – https://www.facebook.com/pg/YellowRoadIE/events/
Deixe uma resposta