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Confissões de uma neta mal resolvida

Julho 26, 2017 By Isabel Costa Leave a Comment

O meu avô tem o hábito de repetir algumas histórias, principalmente aquelas das quais ele mais se orgulha. Todos o fazemos, sejamos honestos. O episódio mais recorrente nos almoços de domingo conta a história sobre como ele, ao receber uma prova de avaliação nos seus tempos de inspetor da CP, reparou que onde ele havia escrito apenas “motor”, o examinador tinha corrigido para “motor elétrico”, deduzindo pontos. Ora bem, uma coisa que devo esclarecer sobre o meu avô: o que ele mais respeita é o verdadeiro artista, um profissional que não só sabe muito sobre o seu ofício, mas tem orgulho em fazê-lo bem. Ou seja, naquilo que o Sr. Virgílio se concentra, não existem erros. Naquela prova, não existiam erros, porque o meu avô sabia exatamente como a legenda estava descrita no livro, e contra factos não há argumentos – ele merecia o 20, exigiu-o e teve-o.

Ele talvez não saiba isto que vou partilhar, mas esta história ficou gravada na minha mente, talvez porque eu considere que esta sua memória faz parte de um conjunto de memórias que não são individuais, mas genealógicas. Fazem parte de quem nós somos como família. Eu, ao contrário do furacão que é o meu avô, tenho mais dificuldades em protestar, reivindicar e mandar pratos para trás. Podia usar o trunfo feminista, e argumentar que, como mulher, sempre foi esperado que a minha voz fosse mais passiva e controlada, mas é mentira. É um bocadinho verdade, talvez, mas vá – já não faz muito sentido hoje em dia. Simplesmente não gosto de barafustar, mesmo quando o devia fazer, pelo meu próprio bem e sanidade mental.

No entanto, não consigo afastar a imagem do meu avô a levantar-se da cadeira e a mandar vir com um pobre homem até ter a nota que merecia. Não consigo, porque tenho orgulho nisso. Tenho orgulho de ser descendente de alguém tão forte e assertivo. Talvez porque tenho esperança que seja genético, e só precise de um pouco de confiança para que a minha verdadeira raça venha ao de cima. Estas e outras histórias ficam-me gravadas na memória e tornam-se parte de quem eu sou, como ajo e reajo. E é por isso mesmo que tenho pena, aliás, mais do que pena, lamento profundamente não ter mais recordações sobre todos os meus avós.

As minhas avós faleceram quando eu ainda era relativamente nova, e a razão pela qual falo mais sobre elas é puramente parcial: são as matriarcas, as mulheres da família que modelaram, ou pelo menos inspiraram, as restantes que vieram depois. Eu ouço as histórias, sobre como no velório da minha avó, eram imensas as flores à sua volta – uma verdadeira homenagem a uma mulher que tocou tanta gente só com a sua generosidade e coração enormes.

E lembro-me de outras, como a minha avó cerrava os meus punhos, analisava os nós dos meus dedos e ficava genuinamente preocupada com a minha alimentação. Como a minha avó me avisou sobre o que iria acontecer se eu continuasse a espremer o Suissinho fechado, mas eu simplesmente tive de ver para crer. Ou como eu adorava fingir que era merceeira por um dia. E costureira no outro. Não me esquecendo que ‘uma banana vale um bife’, porque já que encontrar um pedaço de carne apetecível para o paladar requintado da Isabel com 6 anos era um verdadeiro desafio, mais valia fruta do que nada.

São boas memórias, mas nada comparadas com aquelas que eu gostaria de ter, de saber ou descobrir. Penso muitas vezes sobre a pessoa que seria se elas tivessem estado aqui para me ver crescer, para me orientar ou me dar um empurrão na direção certa. Que conselhos, que histórias, que pedaços de si teriam as minhas avós para me dar, que poderiam ter-me tornado numa pessoa melhor? Orgulhar-se-iam elas de mim sequer?

Bem, este artigo não tinha o propósito de espalhar tristeza! É um assunto um pouco agridoce para mim, admito, mas eu tenho a certeza de uma coisa: tenho pelo menos o desejo de me tornar alguém que as deixaria orgulhosas para me guiar, e isso já é algo muito valioso. Hoje, que é Dia dos Avós, aproveitem-nos bem, vasculhem-lhes a mente e as memórias, e quem sabe? Pode fazer uma diferença maior do que poderiam imaginar!

Assim, em honra de todos os segundos pais deste mundo, e da minha avó em especial, que me contrabandeava um cheirinho de vinho do Porto quando ninguém estava a ver, deixo aqui a receita para o bolo d’avó – melhor, o bolo da ‘minha’ avó.

Ingredientes

  • 150g de açúcar
  • 5 ovos
  • 100g de manteiga à temperatura ambiente
  • Raspa de limão
  • 150ml de leite morno
  • 250g de farinha
  • Vinho do Porto

Preparação

  • Numa taça, deitem o açúcar, as gemas, a manteiga e a raspa de limão. Misturem bem.
  • Depois, juntem o leite morno em fio, enquanto continuam a bater.
  • Adicionem a farinha e voltem a misturar bem o preparado.
  • Agora, a minha adição: juntar 1/3 de um copo de shot (se não tiverem, 1º – o que andam a fazer com a vossa vida?; e 2º – devem lembrar-se da quantidade que um destes leva, porque as noites da Queima são inesquecíveis) de vinho do Porto.
  • Por fim, batam as claras em castelo e envolvam no anterior com uma espátula.
  • Vertam para uma forma untada com manteiga e polvilhada com farinha e levem ao forno a 180º durante cerca de 40 minutos.
  • Cobri o bolo com açúcar em pó, mas façam-no a gosto. Coco ralado é também uma boa opção!

 

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Filed Under: Parentalidade Tagged With: avó, bolo, dia dos avós, doces, familia, gerações, inspiração

Isabel Costa

Em pequena decidi ser veterinária porque adorava – e ainda adoro – animais, até um dia alguém me avisar que não ia poder passar os dias a fazer-lhes festinhas e poderia ter que tomar decisões difíceis se ficassem muito doentes.
Depois, no ensino básico, pensei que ser a Tomb Rai… Ups, que ser arqueóloga seria a melhor opção para mim pois não me parecia haver nada mais entusiasmante do que passar o dia a explorar túmulos de faraós, até alguém me apontar que passaria mais tempo a escovar terra de coisas do que a descobrir monumentos fantásticos.
Então, a Ciência tornou-se o meu caminho e decidi ser enfermeira, até eu própria descobrir que não era essa a minha vocação.
Hoje, sou estudante na área editorial. Posso parecer uma miúda confusa, mas eu gosto de pensar que sou uma mulher de muitas paixões! E aqui vou partilhar com vocês uma das minhas mais antigas e favoritas: a pastelaria. Espero que gostem de me acompanhar enquanto eu descubro e experimento os mais diversos docinhos.

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