A aquisição de habilidades motoras está entre as realizações mais significativas nos primeiros anos de vida. Neste artigo, venho falar-vos do desenvolvimento da Motricidade Fina ao longo dos primeiros 6 anos da criança. Os movimentos associados à Motricidade Fina envolvem a coordenação dos movimentos manuais com a visão (coordenação óculo-manual) e a precisão de pequenos grupos musculares, como os músculos das mãos e dos dedos.
Motricidade Fina
A Motricidade Fina é essencial para a interacção da criança com o meio envolvente e acontece sempre que a criança usa e se relaciona com diferentes objectos. O seu desenvolvimento acontece desde o nascimento, numa contínua interacção com a Motricidade Global, que teremos oportunidade de conhecer com mais detalhe num próximo artigo.
Convém sempre referir que cada criança tem um ritmo próprio de desenvolvimento e que as idades referidas devem apenas servir como linhas gerias de orientação, podendo não ser aplicadas a todas as crianças.
Dos 0 aos 4 meses
O bebé irá movimentar os braços e as mãos para tocar nos objetos ou estímulos visuais, sem qualquer distinção entre o controlo do braço direito ou esquerdo. Entre os 2 e os 3 meses, vai ser capaz de agarrar um objeto que lhe é colocado à frente, de forma reflexa, não conseguindo ainda abrir a mão voluntariamente para largar o objeto, que acabará por cair acidentalmente.
Nesta fase, o bebé irá desenvolver a capacidade para coordenar os olhos e a cabeça de um lado para o outro, marco importante para o desenvolvimento de diversas habilidades motoras finas.
Dos 4 aos 12 meses
Neste período os movimentos voluntários vão-se desenvolver e os bebés serão capazes de agarrar e segurar um objeto. O controlo sobre os braços vai aumentando e o bebé irá progredir do agarrar com as duas mãos para agarrar com uma só mão.
Por volta dos 4 meses, o bebé é capaz de apertar um objeto e de o segurar com a mão fechada e por volta dos 6 ou 7 meses, começa a querer apanhar objetos mais pequenos entre o polegar e a parte lateral do indicador. Aos 12 meses, já consegue apanhar e segurar pequenos objetos entre o polegar e a ponta do indicador, fazendo uma pinça muito semelhante à dos adultos. Ao mesmo tempo, vai-se desenvolvendo a capacidade para transferir objetos de uma mão para a outra e a capacidade para libertar voluntariamente objetos que agarrou.
As competências visuais do bebé continuam a desenvolver-se, e o bebé aprende a controlar a cabeça e os olhos para se movimentarem em conjunto para cima e para baixo. Isto permite ao bebé localizar visualmente um objecto de forma mais eficaz e controlar o movimento do braço, mão e dedos, para agarrar o com maior precisão. Enquanto brinca, o bebé vai levar objectos à boca como forma de exploração (oral) e será capaz de enfiar argolas, colocar pequenos objectos dentro de uma caixa, virar páginas mais grossas num livro, segurar um objecto em cada mão e bater com um objecto no outro.
A partir dos 12 meses
Ao longo desta fase a criança deixa de precisar de usar as mãos para manter a postura do corpo, permitindo que fiquem mais tempo livres durante as brincadeiras. Com 1 ano, o uso do braço é caracterizado pelo movimento de todo o membro (ombro, cotovelo e mão em conjunto) e pelo uso indiferenciado dos dois lados do corpo, sendo que vai mostrando maior preferência por uma das mãos à medida que se vai aproximando dos 2 anos. Começam então a surgir os primeiros sinais de preferência manual que não fica completamente estabelecida, uma vez que ainda alterna o uso das mãos ao longo das diferentes tarefas.
Ao longo do primeiro ano de vida a criança irá começar a usar os dedos independentes uns dos outros. Começa a apontar com o indicador (mantendo os restantes dedos fechados) e a enfiar os dedos em pequenos orifícios. Se lhe dermos uma caneta para pintar, vai agarrá-la na palma da mão com os dedos fechados à volta e com o polegar a apontar para cima. Quando tentar pintar, vai usar movimentos que envolvem o braço todo, formando rabiscos circulares.
Aos 2 anos
Por volta dos 2 anos, quando a criança usa a mão, começam a haver menos movimentos do ombro e mais movimentos no cotovelo.
A dominância manual continua a definir-se e durante atividades como tirar uma tampa de um frasco, uma das mãos irá claramente liderar (a mão que tira a tampa) enquanto a outra apenas dá assistência (a mão que segura o frasco). Mesmo assim, nesta fase, continua a ser comum que a criança alterne o papel que cada uma das mãos desempenha nas atividades.
Quando segura a caneta, vai agarrá-la com os dedos a apontar para o papel. O seu desenho irá evoluir dos rabiscos circulares para linhas verticais, horizontais e o círculo, inicialmente apenas depois de observar alguém a fazê-lo. À medida que se aproxima dos 3 anos, começa a conseguir copiar linhas verticais, horizontais e círculos bastando-lhe olhar para um cartão com as figuras.
Quanto ao uso da tesoura, aos 2 anos a criança vai abrir e fechar uma tesoura com as duas mãos.
Aos 3 anos
Nesta fase, a criança já terá forte preferência por uma das mãos, embora possa, ocasionalmente, trocar a mão que lidera. Quando desenha, a mão que lidera irá segurar o lápis, enquanto que a mão que dá assistência segura o papel.
Vai-se dar uma progressão em termos de desenho desde imitar linhas e desenhar um círculo incompleto, para copiar cruzes e passar por cima, ou contornar desenhos de quadrados e triângulos. A criança vai ainda representar uma figura humana rudimentar e pintar dentro dos contornos, embora ainda com pouco sucesso.
Já tenta cortar um bocado de papel usando uma mão, enfia contas, enrosca e faz uma torre de oito cubos.
Aos 4 anos
Aos 4 anos, a criança já deve segurar um lápis com 3 dedos (segura o lápis com o indicador e o polegar enquanto este e apoiado pelo terceiro dedo) – preensão em tríade. Com a tesoura, já consegue fazer cortes mais pequenos e precisos, já corta com uma tesoura em linha reta e deverá conseguir recortar ainda um quadrado. Quando quiser cortar ao longo de uma linha curva, a mão que assiste deverá começar a rodar o papel para facilitar o desempenho da mão dominante.
Nesta fase, o uso da mão é caracterizado pela diminuição do movimento do ombro e cotovelo e aumento da capacidade para fazer movimentos mais refinados do pulso e dedos.
Enquanto a criança desenha, deve ser observada uma combinação dos movimentos do pulso com os dedos e a dominância manual já deverá estar definida.
A criança já conseguirá pintar dentro dos contornos, copiar cruzes, linhas diagonais e quadrados, usando a preensão em tríade. Desenha, ainda, a figura humana mais completa e letras rudimentares. Faz construções e puzzles mais complexos, como uma escada de seis cubos, e realiza dobragens em imitação.
Aos 5 anos
Nesta fase, as suas mãos já devem trabalhar em conjunto, devendo ser claramente identificável qual a mão dominante ou a que dá assistência. A preensão em tríade já deve estar integrada, e a criança já consegue desenhar cruzes, triângulos, quadrados e losangos e representa com mais detalhes a figura humana.
Quando desenha, a criança já deve realizar movimentos pequenos e precisos dos dedos, com o antebraço e dedo mindinho sobre a mesa. Já deve conseguir agarrar a tesoura como um adulto, recortando sobre linhas curvas e figuras.
Aos 6 anos
Aos 6 anos, a criança já deve desenhar a figura humana e a casa com pormenor, escrever letras e números, e ainda o seu nome. Faz encaixes complexos e construções criativas. Apesar da maioria das preensões para uma variedade de objectos estarem já desenvolvidas aos 5 anos, as que envolvem ferramentas continuam a desenvolver-se, em termos de qualidade e força, nesta fase.
E de que forma podemos nós, adultos, ajudar no desenvolvimento destas habilidades?
Através de atividades e materiais muito simples.
Desde os legos aos blocos de madeira, passando pelos jogos de encaixe simples e puzzles. Incentivar a criança a rasgar papel antes de pensarmos em dar-lhe uma tesoura e, quando chegarmos a essa fase, optarmos por tesouras que só cortem papel e sempre com supervisão. Enfiamentos, brincadeiras com plasticina, desenhos (desde os desenhos com as mãos e tinta até aos desenhos feios com os diferentes instrumentos de escrita) também devem fazer parte deste leque de atividades.
Acima de tudo, é importante deixar a criança explorar, descobrir e experimentar novas formas de utilizar diferentes objectos adequados à sua idade.
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